CC 3.0. Gustavo Lima / Câmara dos Deputados

A dança das cadeiras do Governo Bolsonaro

Desde que tomou posse em janeiro de 2019, com um total de 22 ministros, a gestão Bolsonarista acumulou quase 30 mudanças de cargo, sendo as mais controversas, as do Ministério de Saúde em plena pandemia e as do Ministério de Educação, acompanhadas por polémicas e suspeitas de corrupção.  Dos 22 ministros que começaram a governar ao lado de Jair Bolsonaro, apenas 9 se mantém no cargo.
Apartados xeográficos Latinoamérica
Palabras chave galiza internacional
Idiomas Portugués

Desde que tomou posse em janeiro de 2019, com um total de 22 ministros, a gestão Bolsonarista acumulou quase 30 mudanças de cargo, sendo as mais controversas, as do Ministério de Saúde em plena pandemia e as do Ministério de Educação, acompanhadas por polémicas e suspeitas de corrupção.  Dos 22 ministros que começaram a governar ao lado de Jair Bolsonaro, apenas 9 se mantém no cargo.

Já no começo do seu mandato, o atual presidente do Brasil, formou uma equipe de governo altamente militarizada e rodeada de apoiadores da visão particular e ideológica, tanto é assim que qualquer manifestação contrária ao presidente foi acompanhada sempre da destituição ou pedido de afastamento do cargo. 

Com uma base olavista, conservadora, negacionista e neopentecostal, são muitos os momentos de tensão e desgaste do governo que sem embargo, mantém um discurso anticorrupção, mesmo com diversas investigações paralisadas diante do bloqueio político e burocrático, imposto pelo próprio governo, convertendo em realidade a frase “olhos que não vê, coração que não sente”. Pois parece haver uma miopia generalizada em relação aos apoiadores mais fiéis do governo.

Ainda assim, os índices de confiança e de aprovação do governo foram caindo progressivamente a cada erro cometido pela equipe governamental e pela crescente deficiência orçamentária e econômica que enfrentam o país. Assim mesmo, a imagem do Brasil no cenário internacional, foi aos poucos perdendo a credibilidade, e a participação do Brasil em diversos fóruns internacionais chegou a ser limitada.

De ser uma das principais economias emergentes do planeta e de ocupar um dos dez primeiros lugares em relação ao produto interno bruto das nações, o Brasil passou a desempenhar um papel secundário e muitas vezes a ser tratado como um estado pária em agendas que antes ocupava um lugar de protagonista, tais como Direitos Humanos, Meio Ambiente e Cooperação Internacional.

Tanto a política interna quanto a política externa do Brasil passaram a ser pautadas pela ação e visão presidencial, afetando os compromissos prévios do país e ao seu próprio desenvolvimento e resultado econômico. Se transformando em uma extensão do famoso condomínio Vivendas da Barra onde residia a família Bolsonaro.

Houve uma redução substancial no orçamento da saúde e educação, seguidos pela consequente fuga de cérebros, com um aumento muitas vezes superior ao 100% de fluxos migratórios para países da Europa tais como Portugal ou Espanha e para os EUA.

Internamente o desemprego e a inflação, pressionada pela desvalorização da moeda, teve como resultado a volta galopante da fome, com cenas que marcaram a sociedade tais como pessoas fazendo filas para comprar ossos ou o aumento da subnutrição e o descenso da antes chamada “nova classe média” ao patamar da pobreza. Assim mesmo a ação tardia do governo em relação a pandemia, devido ao posicionamento abertamente negacionista do desemprego, acumulou milhares de mortos.

Certo é que a fortuna do grupo dos mais ricos aumentou durante estes anos da gestão Bolsonaro, incrementando o índice de desigualdade social e a concentração de capital. Assim mesmo os resultados obtidos com o incremento das exportações não foram refletidos na sociedade que passou a pagar mais pelo produto nacional, valorizado quando comparado a demanda internacional.

É como se o Brasil tivesse instaurado um novo regime escravocrata, no qual a pobreza laboral, caracterizada por trabalhadores cada vez mais pobres e com menos direitos, mantém um pequeno grupo enriquecido diante da acumulação e concentração de capital, fomentada pela crescente privatização dos recursos nacionais, onde de fato a população perdeu a posse dos seus próprios recursos, pagando o preço conforme a cotação internacional de itens básicos tais como alimentos ou combustível. A exemplo disso podemos citar produtos tais como o óleo ou arroz cujo preço semelhante ao dos mercados da Europa e América do Norte, estão fora da realidade do brasileiro médio.

Para um país em vias de desenvolvimento, a falta de estímulos internos, investimentos públicos e mobilidade social é um veneno a longo prazo que se mantém com promessas de base religiosa ou de uma pseudo-meritocracia inexistente, potencializados por um fanatismo quase religioso de suas bases eleitorais.

Ainda assim, quando analisada a conjuntura política e econômica do Brasil, não vemos nenhum avanço real, como muito uma recuperação de alguns setores, mais motivada pelo aumento da demanda internacional que por políticas assertivas internas. Por outro lado, vemos que a desindustrialização da nação, com a saída de grandes montadoras, tais como a Ford e a divisão de carros da Mercedes Benz, aumentam a dependência do Brasil do mercado externo e impacta diretamente na sociedade, seja na geração de emprego ou no seu poder de consumo.

Entre os ministros de Bolsonaro, ainda alimentam a ilusão de que o país que já chegou a ser a 6ª maior economia do planeta e a registrar pleno emprego durante a gestão trabalhista, está em uma condição melhor… tais como uma elite afastada da realidade das ruas e acolhidos por um grupo de apoiadores, o governo mantém seu esquema de afiançar sua base eleitoral, cedendo favores aos seus aliados políticos como recentemente provou os áudios do Ministro de Educação e seu favoritismo a grupos religiosos que são fundamentais em uma possível reeleição de Bolsonaro.

Os ministérios se transformaram em um grande circo que a cada escândalo político, geram uma cortina de fumaça, envolvida normalmente por declarações polêmicas que afastam a sociedade de ver a realidade e que como diria Shakespeare “Há algo de podre no reino”.