Há uma década atrás, em 2010, o Brasil registrava um crescimento de 7,5%, sendo usado por diversas nações como exemplo de superação da pobreza, fome e desigualdade social. Mais de 40 milhões de pessoas entravam em uma nova classe média e no mercado de consumo, fazendo com que o país superasse a economia do Reino Unido, se transformando na 6ª maior do planeta. Mesmo com o avanço da Crise Financeira Internacional, o Brasil continuava registrando crescimento, geração de empregos e oportunidades de investimento, sendo talvez um dos principais marcos que pautaram essa evolução a saída do mapa da fome da ONU em 2012 e a transformação de devedor a credor do Fundo Monetário Internacional (FMI).
Há uma década atrás, em 2010, o Brasil registrava um crescimento de 7,5%, sendo usado por diversas nações como exemplo de superação da pobreza, fome e desigualdade social. Mais de 40 milhões de pessoas entravam em uma nova classe média e no mercado de consumo, fazendo com que o país superasse a economia do Reino Unido, se transformando na 6ª maior do planeta. Mesmo com o avanço da Crise Financeira Internacional, o Brasil continuava registrando crescimento, geração de empregos e oportunidades de investimento, sendo talvez um dos principais marcos que pautaram essa evolução a saída do mapa da fome da ONU em 2012 e a transformação de devedor a credor do Fundo Monetário Internacional (FMI).
Porém como registrado por diversas vezes nas economias latinas, cada ciclo de crescimento é acompanhado por uma etapa de forte recessão, sendo está talvez a pior já enfrentada pelo país ao longo de sua história. Marcada por escândalos de corrupção, desvalorização da moeda, perda de empregos, volta dos fluxo migratórios e o impeachment da presidente Dilma Rousseff colocando fim ao período de crescimento e expansão da economia.
Em pleno ocaso dos governos de esquerda na região latino-americana, emergia no horizonte uma direita conservadora e muitas vezes extremista, que se posicionava contrária a todo o projeto de governo do Partido dos Trabalhadores, sem discernir entre resultados positivos e negativos, fazendo eco da frase do economista alemão Albert O. Hirschman.
“Descobri a fracasso mania numa viagem ao Brasil, há mais de 30 anos. Toda vez que muda um governo os intelectuais brasileiros consideram que está tudo errado e é preciso começar tudo de novo.” Albert Otto Hirschman
Jair Messias Bolsonaro, deputado com mais de 30 anos de carreira, mas sem nenhum projeto de lei importante aprovado durante toda sua vida no congresso, atuou como o arauto do lado mais conservador do país, do elitismo social, do racismo, da homofobia e do desprezo aos programas sociais. Com o lema “Brasil acima de tudo, Deus acima de todos” e com o apoio da bancada evangélica e representantes do agronegócio, se alçou como líder em um país profundamente dividido e afetado pela falta de credibilidade internacional e impactos de uma economia global com baixas taxas de crescimento.
Após quase um ano e meio desde que se elegeu presidente do Brasil, a gestão de Jair Messias Bolsonaro está marcada por polêmicas, planos políticos e econômicos ineficazes, mudanças contínuas de gestores, perda de aliados, incremento da divisão, desigualdade social e atualmente pelo negacionismo crescente do líder de uma das dez maiores economias do planeta e país mais afetado pela pandemia causada pelo Convid19 na América Latina, com mais de 30 mil infectados e uma crescente taxa de mortalidade.
Ainda assim, com uma base eleitoral formada por militares e setores conservadores do Brasil – principalmente por grupos evangélicos – Bolsonaro continua fazendo eco do seu apodo popularizado durante as eleições, se autoproclamando um “Mito” na história recente do país e atribuindo todo resultado negativo que acumula à gestões anteriores (principalmente a gestão do PT com Lula e Dilma) e também a uma grande conspiração internacional de um mundo denominado por ele “comunista” onde até mesmo líderes da direita de diversos países, tais como Angela Merkel, já foram classificados como políticos de “esquerda”.
Bolsonaro, cujo mentor é o astrólogo Olavo de Carvalho, também autoproclamado filósofo erradicado nos Estados Unidos, é uma amálgama de diversas teorias conspiratórias e Fake News. No seu discurso, temas como o Terraplanismo, Conspiração Comunista Mundial, Negacionismo Científico em relação ao Aquecimento Global, Vacinas e Doenças (tais como o Coronavirus), Segregação Racial e Social e Fundamentalismo Cristão são recorrentes e também presentes no seu séquito de gestores e seguidores.
Exemplos tais como o Ministro de Educação, Abraham Weintrub, que defende o estudo do Criacionismo, ou o Ministro de Relações Exteriores, Ernesto Araújo, que defende a não existência do Aquecimento Global, mas sim uma conspiração mundial e por último, porém não menos flagrante, o uso arbitrário do judiciário na construção de provas e articulação entre o juiz Sérgio Moro (atual Ministro de Justiça) e a acusação, mesmo com provas apresentadas pelo jornalista Glenn Greenwald (Ganhador do prêmio Pultizer por publicar os escândalos do dos Estados Unidos) no caso do ex-presidente Lula, não gerou o cancelamento do julgamento e deturpam cada vez mais a já prejudicada imagem do país dentro da Comunidade Internacional.
A tão prometida mudança política e econômica do país, jamais se concretizou e mesmo que no final do ano de 2019 o Brasil emitiu um leve sinal de recuperação econômica, está se deveu somente ao incremento dos preços das commodities no cenário internacional e seu impacto em uma economia cuja moeda está entre as 5 mais desvalorizada do globo, não sendo fruto da gestão interna paralisada diante dos escândalos e desacordos.
Porém o crescimento da desigualdade social, aumento da pobreza e volta da fome são sem dúvidas reflexos de um país decadente, voltando a patamares de 30 anos atrás.
Reformas prometidas em tempos de campanha tais como a previdenciária, aumentou o tempo de contribuição dos cidadãos em um cenário de alto desemprego, elevada rotatividade laboral e contratações intermitentes, porém não afetou aos militares e altos cargos políticos, mantendo a desigualdade social e os privilégios dos grupos que geram maiores gastos públicos e que apoiam Bolsonaro.
Desastres ambientais tais como os incêndios na Amazônia ou o derramamento de petróleo no Nordeste, foram minimizados e recentemente o presidente, demitiu ao diretor do IBAMA, Olivaldi Azevedo, por uma ação que este realizou em contra dos madeireiros em território indígena, sendo outro pilar fundamental de apoio para a gestão de Bolsonaro, o agronegócio e o extrativismo em oposição a preservação e demarcação dos territórios indígenas.
Na área social a redução do orçamento em áreas tais como a saúde, educação e programas sociais, levou o país a registrar índices de 30 anos atrás. Com incremento exponencial da miséria e aumento da concentração da riqueza.
No âmbito criminal, todas as investigações que relacionavam a família Bolsonaro com os grupos paramilitares e líderes do narcotráfico do Rio de Janeiro, foram paralisadas ou cerceadas, testemunhas chaves que relacionavam diretamente ao filho do presidente com os assassinos da vereadora e ativista Marielle Franco, desapareceram ou morreram. Ainda com comprovada relação empregatícia de membros desses grupos em gabinetes de Flávio Bolsonaro, também político e filho de Bolsonaro.
Outro membro do clã Bolsonaro, e atualmente deputado federal ganhou forte expressão em suas polemicas manifestações que foram desde ofensas ao filho do atual presidente da Argentina por sua orientação sexual, à acusações feitas contra a China em relação a pandemia de Coronavirus que teve uma forte reprimenda da embaixada do país asiático, principal parceiro econômico e investidor no Brasil.
Diversas foram as denúncias realizadas na Comissão Internacional de Direitos Humanos envolvendo ao presidente do Brasil e seus filhos, que atuam no país como se fosse uma extensão de suas relações pessoais. Porém poucas foram as repercussões, salvo a reiterada rejeição internacional que aos poucos transforma a Jair Bolsonaro em um pária nas Relações Internacionais e ao cancelamento de contratos internacionais e fundos de ajuda para a preservação da selva amazônica.
Porém recentemente, o papel de Jair Bolsonaro, em sua estrambótica gestão, ganhou um novo episodio que preocupa as Nações Unidas e abala a pouca estabilidade política no país. O negacionismo do presidente brasileiro em relação a Pandemia de Coronavirus, seus discursos e tentativas de obrigar aos Estados da Federação à cancelar a quarentena decretada por diversos governadores, tais como João Dória de São Paulo (capital financeira e estado com maior população do Brasil) até então considerado aliado político, levaram o Brasil a um estado de anomia.
Bolsonaro afirma uma e outra vez que se trata somente de uma conspiração internacional para quebrar a economia mundial liderada pela China para instaurar o socialismo no mundo. Que se trata somente de uma gripezinha e que é normal o fato de que pessoas idosas morram, assim como soldados morrem nas guerras.
O ápice da polêmica chegou no dia 16 de abril com a demissão do Ministro de Saúde, Luiz Henrique Mandetta, que contra a vontade expressa do presidente, seguia as determinações da Organização Mundial da Saúde no combate à pandemia e apoiava a paralização e o confinamento da população.
Substituído pelo sr. Nelson Teich, que já declarou estar alinhado com o presidente e que o governo não deveria realizar gastos excessivos a quem já está destinado a falecer.
E mesmo após sucessivas polémicas e o incumprimento de leis constitucionais e quebra do decoro parlamentar, os 16 pedidos de impeachment apresentados no Congresso de Deputados, continuam paralisados perante a falta de articulação da oposição que sofre sem uma liderança definida, após afastamento do ex-presidente Lula e disputas partidárias.
A sensação de impunidade é tamanha que compeliu ao atual presidente do Brasil a participar em manifestações a favor do fechamento do Supremo Tribunal Federal e do Congresso de Diputados, apelando a uma intervenção militar, contrariando a Lei de Crimes Contra o Estado e a Ordem Política e Social cujo Art. 23 cita claramente que é proibido “ Incitar à subversão da ordem política ou social, à animosidade entre as Forças Armadas ou entre estas e as classes sociais ou as instituições civis” assim como também o fato de fazer apologia a Ditadura Militar sendo crime no Brasil, previsto na Lei de Segurança Nacional (Lei 7.170/83), na Lei dos Crimes de Responsabilidade (Lei 1.079/50) e no próprio Código Penal (artigo 287)
O Bolsonarismo chegou a ser comparado em sua megalomania a uma seita prejudicial para o Brasil em um artigo do jornal alemão Deutsche Welle publicado no dia 15 de abril de 2020 assinado pelo jornalista Philipp Lichterbeck que reside no Brasil.
A negropolítica e o negacionismo da gestão Bolsonaro se expressa em seu ponto auge, de forma escancarada e sem discrição alguma. Com um país dividido, onde os apoiadores do presidente fazem manifestações contra as medidas de quarentena, desfilando em carros de luxo e se ajoelham nas avenidas formando longas fileiras de pessoas rezando para que Deus resolva o problema... Em um país que segundo a OMS pode se transformar no maior foco da doença e que atualmente não possui meios para cuidar de sua população...
O eco de bolsonaristas clamando pela intervenção Militar é o reflexo de uma democracia profundamente danificada, onde o presidente atua conforme seu discurso e que sem reparos citou “Eu sou a Constituição”.
Esta peza é parte do IGADI Annual Report 2019-2020, podes descarregalo aquí.
Bibliografia:
Pinheiro-Machado, Rosana. Brasil em transe:: bolsonarismo, nova direita e desdemocratização Ed. Oficina 2019
Nozaki, William. Conservadorismo e Progressismo na Cidade de São Paulo. Ed. FESPSP 2019
Margingoni, Gilberto. Cinco mil dias o Brasil na era do lulismo. Ed. Lauro Campos 2020
Aldo, Fornazieri. A Crise Das Esquerdas. Ed. Civilização Brasileira 2020