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E a Galiza… é lusófona?

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 A Península Hispánica no 1066, clic para aumentar
Se a esta facilidade comunicativa entre a comunidade de expressão portuguesa e a comunidade galega acrescentamos o facto de a língua portuguesa ter o seu berço na Galiza medieval, que incluía o território da actual Comunidade Autónoma Galega transcendendo-o ainda amplamente, parece legítimo reivindicar-se que a Galiza seja reconhecida pelo resto da Lusofonia como membro de pleno direito. (Foto: Reino da Galiza no 1066).
 

A Galiza é uma parte do Estado espanhol que faz fronteira com o norte da República Portuguesa e que dispõe de um governo próprio, a Junta da Galiza, com um grau de autonomia semelhante ao de um estado federado, se bem que com matizes diferenciais importantes.

Apesar da pertença ao Estado espanhol, a Galiza conta com peculiaridades históricas, económicas, sociais e culturais que pouco ou nada têm a ver com as que se identificam habitualmente com a nação espanhola: as touradas não são próprias da Galiza, não há dança ou música "flamenca", o traje típico não leva "volantes", não há um amplo planalto facilitador da comunicações, a água não é escassa nem está maioritariamente contaminada, embora também haja rios contaminados, não falta produção energética nem condições para a aumentar, a influência da cultura moura é ínfima, sendo bem mais importante a celta… e a língua própria da Galiza não é o castelhano ou espanhol.

Qual é, então, a língua da Galiza? O certo é que os filólogos galegos não chegaram a um acordo relativamente a isto, podendo sintetizar os seus posicionamentos em dois grandes blocos: o dos que defendem que a língua galega é uma variante da língua portuguesa com mais ou menos particularidades e o dos que postulam que a língua galega é diversa da portuguesa, apesar de terem sido a mesma língua no passado e de ainda hoje semelharem-se enormemente. No entanto, todos coincidem em algo: as pessoas que conhecem a língua galega comunicam-se com extrema facilidade com as que usam o português. Isto é, precisamente, o que justifica a emergência nos últimos tempos de inúmeros projectos galego-portugueses, o que explica o lema "Galician people speak Portuguese" usado por um órgão oficial, o Instituto Galego de Promoción Económica, na sua publicidade nos EUA, ou o que dá sentido à recente criação na Galiza do Observatório Galego da Lusofonia (Ogálus).

Se a esta facilidade comunicativa entre a comunidade de expressão portuguesa e a comunidade galega acrescentamos o facto de a língua portuguesa ter o seu berço no medieval Reino da Galiza, que incluía o território da actual Comunidade Autónoma Galega transcendendo-o ainda amplamente, parece legítimo reivindicar-se que a Galiza seja reconhecida pelo resto da Lusofonia como membro de pleno direito e que, portanto, as actividades e instituições dirigidas a este conjunto de países e regiões a tenham em linha de conta.

E o que é que a Galiza pode brindar aos países e regiões da Lusofonia? Não sendo a resposta a esta pergunta o alvo central desta breve reflexão, limitar-nos-emos a fazer um grosseiríssimo achegamento à mesma referindo, por exemplo: o inegável atractivo turístico de carácter cultural, com o Caminho de Santiago ou os inúmeros restos celtas e romanos; a enorme experiência nesse mesmo campo do turismo; a capacidade e conhecimento científico e técnico em sectores como a pesca e construção de navios, as novas tecnologias, agricultura e pecuária, geração de energias renováveis, produção de viaturas civis e militares, educação, construção, sanidade (um dos colectivos mais importantes de médicos estrangeiros em Portugal é o galego); uma potente, rica e efervescente produção cultural própria em todos os campos imagináveis; a obra de uma das maiores escritoras da literatura universal: Rosalia de Castro…

Assim sendo, pode-se asseverar com pouco medo de errar que qualquer esforço realizado para a aproximação entre a Galiza e a Lusofonia será proveitoso para ambas as partes. Às autoridades políticas e sociedade civil galegas corresponde agora dar passos firmes na direcção dos territórios lusófonos, definidos como estratégicos há muito tempo em demasiados discursos retóricos que não acabam de ser suficientemente concretizados. Mas, na Lusofonia… como irá ser acolhida a desconhecida Galiza? Haverá quem tenha vontade de descobri-la, de recebê-la, de, enfim, apostar também nela?