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Loromonu e lorosae

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Contudo, conforme a crise evolui, observam-se cenários contraditórios: de um lado vem-se faixas e cartazes invocadores da divisão e ataques especificamente dirigidos contra bens e pessoas lorosaes ou contra loromonus; doutro lado, ouvem-se pessoas loromonus e lorosaes a asseverarem lutar juntas na defesa dos seus bairros e líderes políticos a tirarem importância a esta fractura. Como é possível? (Foto: Rostros de Timor Leste. ©Hakan UGURLU).
 

No início e desenvolvimento da actual e grave crise timorense têm incidido e incidem múltiplos factores que podem ser divididos em dois blocos: os que têm a sua origem no próprio Timor Leste (endógenos) e os que provêm de alegados interesses estrangeiros (exógenos).

Dentro do bloco endógeno tem-se referido a divisão da população timorense em loromonus e lorosaes como um dos principais elementos a levar em conta, mas… que refere exactamente esta divisão e até que ponto terá tido importância na crise?

Geralmente, loromonus são consideradas aquelas pessoas nascidas nos 10 distritos ocidentais de Timor Leste: Aileu, Ainaro, Bobonaro, Cova-Lima, Díli, Ermera, Liquiçá, Manatuto, Manufahi, e Oécussi. Enquanto lorosaes são aquelas outras nascidas nos 3 distritos mais orientais: Baucau, Lautém e Viqueque. Se bem que a classificação de Manatuto quiçá não seja assim tão fácil, como tem notado o professor Paulo Castro Seixas. Na origem da fractura colocam-se diferenças étnicas: traços físicos e psicológicos, e divergências no predomínio de umas ou outras línguas. Assim sendo, aos loromonus atribui-se-lhes serem mais pequenos, trabalhadores, consensuais e reservados, bem como falarem predominantemente tétum e mambae. Aos lorosae atribui-se-lhes serem mais altos, preguiçosos, negociadores e emotivos, bem como privilegiarem o makasae do ponto de vista linguístico.

A fractura é essencial no início da actual crise timorense, pois que é referida pelos próprios militares peticionários como a causa de discriminações no exército timorense e, portanto, dos seus protestos. Segundo o presidente Xanana, ademais, trata-se de uma divisão que vem de velho no seio das Falintil-Forças de Defesa de Timor Leste e que já tinha sido identificada em 2004 por uma comissão investigadora.

Contudo, conforme a crise evolui, observam-se cenários contraditórios: de um lado vem-se faixas e cartazes invocadores da divisão e ataques especificamente dirigidos contra bens e pessoas lorosaes ou contra loromonus; doutro lado, ouvem-se pessoas loromonus e lorosaes a asseverarem lutar juntas na defesa dos seus bairros e líderes políticos a tirarem importância a esta fractura. Como é possível?

A divisão loromonu-lorosae constitui uma clivagem emergente. Quer dizer, trata-se de um factor potencialmente separador da sociedade timorense em dois blocos, mas ainda não é uma maioria a que considera que ser loromonu ou lorosae envolve interesses divergentes relativamente ao outro grupo, de modo a que esse outro grupo deva ser considerado, no mínimo, adversário. A divisão, pois, ainda não está politicamente activada de maneira plena, por mais que alguns grupos já a tenham assumido e estejam a actuar em consequência. Desta maneira podem compreender-se os cenários contraditórios referidos acima.

Quer irá acontecer no futuro? Da evolução da actual crise dependerá em boa medida que a clivagem, latente durante a invasão indonésia por existir um inimigo comum, vire manifesta para uma maioria populacional. E esperemos que isto não venha a acontecer pois que vai fazer falta uma muito estreita colaboração entre as todas pessoas timorenses para defrontarem as prementes carências e conseguintes necessidades que o país deverá defrontar nos próximos anos.