O “Gigante verde-amarelo” – ainda que…cada vez menos verde… – É considerado o líder regional por preferência, já seja pela sua população de mais de 210 milhões de habitantes (IBGE2020), que corresponde a aproximadamente a metade da América do sul, ou pelo seu território que compreende 48% do total da região. Em termos econômicos o Brasil dista muito de seus vizinhos e mesmo quando possuí taxas de crescimentos abaixo das desejadas, continua sendo uma locomotiva para a economia local.
No dia 2 de outubro deste ano, o Brasil entra na mira apreensiva da comunidade internacional, já que o embate tão esperado entre Bolsonaro e Lula finalmente vai acontecer.
Bolsonaro, líder conservador que ganhou fama internacional pelo seu discurso e negacionismo, deve enfrentar-se ao ex-presidente Lula da Silva, cujo julgamento por corrupção e improbidade administrativa foi cancelado pelo Supremo Tribunal Federal ao descobrir-se que o então juiz responsável pelas investigações da Lava Jato e a procuradoria, participavam de um esquema de interesses políticos, cujo principal objetivo, era impedir a participação de Lula nas eleições de 2018 e desacreditar ao ex-presidente e ao Partido dos Trabalhadores, sendo que tal juiz posteriormente foi nomeado ministro de justiça de Bolsonaro, cometendo o crime de prevaricação e ferindo ao código de ética da magistratura do Brasil e flagrado em áudios comprometedores, onde articulava a operação contra Lula impedindo seu direto de defesa e contrariado a imparcialidade que se espera de um juiz.
O Brasil de Bolsonaro e o Brasil de Lula são duas realidades completamente distintas que custa acreditar que ambas estão próximas no espaço-tempo.
Lula foi reconhecido internacionalmente pelos seus programas sociais, o aumento da classe média brasileira e o incremento da mobilidade social, além de promover o melhor ciclo econômico da história do país segundo estudos da Fundação Getúlio Vargas (FGV) a mais prestigiosa instituição do Brasil, assim mesmo, seu governo alavancou o Brasil ao grupo das 7 maiores economias do planeta, porém foi marcado por investigações e crimes de corrupção, que por outro lado, somente foram possíveis graças as reformulações realizadas pela própria gestão do Partido dos Trabalhadores, acabando com o ciclo de engavetamento (pré-inscrição) das investigações típicas dos governos anteriores.
Bolsonaro por outro lado, assumiu o poder em um país completamente polarizado, marcado pelo impeachment da presidenta Dilma Rousseff (que posteriormente foi inocentada) que já vinha sofrendo uma série de mudanças com o governo de transição de Michel Temer (vice-presidente de Dilma Rousseff, que posteriormente pediu desculpas em público pela sua participação no “golpe brando” que ajudou a articular e que terminou o mandato após a Dilma ser afastada).
Apoiado pela crescente comunidade evangélica do Brasil, militares e ruralistas, a famosa bancada BBB (Bíblia, Boi e Bala) e parte da classe média que estava descontenta com o aumento dos preços a raiz da crise de confiança que enfrentava o Brasil e dos reflexos da crise financeira internacional e crise das commodities que enfrentavam os principais parceiros da nação (a exceção da China) que teve seus reflexos na cotação da moeda.
Autoproclamado “Mito”, Bolsonaro prometeu um país próspero, sem corrupção e sem a influência do comunismo…, porém o que entregou foi um país que voltou a registrar elevadas taxas de desemprego e inflação, a volta da fome, redução orçamentária em setores vitais tais como a educação e saúde, além de um discurso negacionista que provocou a morte de 682 mil brasileiros durante a pandemia da Covid19.
Assim mesmo, todo escândalo político e suspeita de corrupção foram rapidamente sufocados, por discursos polêmicos de Bolsonaro e sua equipe, com a declaração de sigilo de diversos documentos (tais como os gastos da presidência, reuniões com ministros investigados por corrupção ativa, cartão de vacina do presidente e gastos da família Bolsonaro), desativação dos órgãos de transparência pública ou com o afastamento dos implicados nas investigações.
Ocultando praticamente toda ação suspeita do governo e sua equipe, Bolsonaro foi afastado dos principais fóruns e encontros internacionais, e quando presente, era totalmente ignorado ou criticado por sua falta de transparência, veracidade e discurso explosivo.
Seu discurso na ONU em relação a defesa da Amazônia, que em seu mandato registra o maior número de incêndios e desflorestamento, além do incremento das tensões entre indígenas e extrativistas, foi para muitos analistas sua morte política no cenário internacional e até mesmo líderes conservadores como Marine LePenn da extrema-direita francesa, decidiu se afastar de Bolsonaro.
Acuado e perdendo apoio até mesmo de sua base eleitoral, Bolsonaro incrementou os programas e benefícios sociais com o objetivo de aumentar sua popularidade, assim mesmo nomeou a novos ministros, cujo discurso mais moderado, trata de melhorar e recuperar a reputação do atual presidente brasileiro.
Por outro lado, a primeira-dama e terceira esposa do líder conservador, Michelle Bolsonaro, encarna, ao mais puro estilo, a personagem Serena do popular livro e serie de televisão The Handmaid’s Tale (Contos da Aia) tentando recuperar o apoio da comunidade evangélica.
Já os militares e militantes bolsonaristas, tratam desesperadamente de desacreditar o sistema eletrônico eleitoral do Brasil que superou todas as provas de segurança e que foi o mesmo usado na vitória de Bolsonaro, o que gera o temor até mesmo reconhecido do Supremo Tribunal Eleitoral, da intromissão militar no processo eleitoral, algo que ameaça diretamente a jovem democracia brasileira.
Outros candidatos como Ciro Gomes (ex-ministro de Lula, porém hoje sua nêmesis) e Simone Tebet (autoproclamada terceira via) tentam minimizar as chances de uma vitória no primeiro turno de Lula e ganhar peso na decisão eleitoral caso a mesma chegue a um segundo turno.
De momento, Lula com 54% das intenções de voto, seguido por Bolsonaro com 37%, lideram a disputa, e o Brasil volta a se polarizar, deixando muito claro que ganhe quem ganhar, será uma gestão muito complexa e cheia de desafios.