Exército de Cabo Verde na encruzilhada

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O futuro do exército cabo-verdiano saltou para a mesa de debate. A extinção da tropa ou a manutenção de forças de elite, nomeadamente fuzileiros, são os dois extremos das ideias propaladas, mas não a nível oficial. Mas, pelo papel histórico que os militares desempenharam na construção do Estado ante e pós-independência, é improvável, ou mesmo inadmissível, a concretização do primeiro cenário.

A reconversão do exército é vista, de qualquer modo, como uma saída inadiável. Tendo em conta a delicadeza do assunto, o modelo que as Forças Armadas deverá adoptar irá depender do consenso alcançado entre os partidos políticos, principalmente entre o PAICV, no governo, e o MpD, na oposição.

Numa entrevista concedida ao jornal A Semana, o chefe das FA, o coronel Antero Matos, defendeu que a instituição militar precisa ser reconhecida pela sociedade como uma força útil. O próprio Coronel Antero Matos afirma categoricamente: ou as Forças Armadas mudam, ou morrem. “Ou se faz uma reforma para se permitir um desempenho visível e útil das FA ou então não conseguimos sobreviver muito tempo”, afirma o CEMFA na citada entrevista concedida ao “A Semana”.

Divorciado da sociedade civil nos últimos tempos, o exército passou a ser visto como uma força inútil, que só serve para esbanjar dinheiro. As missões das FA são pouco visíveis, sobretudo num país onde reina a paz e a estabilidade social. Por outro lado, Cabo Verde participa muito pouco nas forças de paz a nível internacional.

“No estado em que nos encontramos, é o próprio poder político que não se sente estimulado em investir nas Forças Armadas. No fundo, se nós, os militares, quisermos ter aceitação geral, e o reconhecimento político e social, temos de contribuir para essa mudança de pensamento”, declarou o Chefe do Estado Maior das Forças Armadas.

Constituído por 1250 homens, dos quais apenas 300 são permanentes, as Forças Armadas caíram em crise. Nos últimos três anos cerca de 130 oficiais e sargentos deixaram as suas fileiras, à coberto de um programa de passagem à reserva e à reforma antecipada.

Cerca de 90 por cento do orçamento militar é gasto com o salário do pessoal, restando uma miséria para os investimentos. Isto explica, em parte, a degradação do quartel Jaime Mota, o principal aquartelamento em Cabo Verde. Esta unidade está agora condenada a ser desactivada. Fala-se na possibilidade de ser transformado num hotel ou num museu. Mas isto só depois das Forças Armadas ganharem um novo quartel, na cidade da Praia.