Sede do Ministerio de Asuntos Exteriores do Brasil, o Itamaray. Fonto: CC Leandro Neumann Ciuffo Sede do Ministerio de Asuntos Exteriores do Brasil, o Itamaray. Fonto: CC Leandro Neumann Ciuffo

Brasil e a guerra da Ucrânia, bandwagoning diplomático

O Brasil foi o primeiro país da América do Sul que formalizou relações com o Império Russo em 1828. Em 1876 Dom Pedro II chegou a realizar uma visita de caráter privado, sendo recebido pela Academia de Ciências da Universidade de São Petersburgo. Desde então as relações entre ambos os países, distantes a mais de 11 mil km (Usando ambas as capitais como ponto de referência) foram acompanhando as evoluções do cenário geopolítico mundial se caracterizando por um constante movimento de sístole e diástole.
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O Brasil foi o primeiro país da América do Sul que formalizou relações com o Império Russo em 1828. Em 1876 Dom Pedro II chegou a realizar uma visita de caráter privado, sendo recebido pela Academia de Ciências da Universidade de São Petersburgo. Desde então as relações entre ambos os países, distantes a mais de 11 mil km (Usando ambas as capitais como ponto de referência) foram acompanhando as evoluções do cenário geopolítico mundial se caracterizando por um constante movimento de sístole e diástole.

O Brasil possuí uma colônia atual de 1.8 milhões de descendentes russos, que chegaram ao Brasil no final do século XIX e começos do século XX, sendo por outro lado notável a imigração ucraniana que forma uma colônia de aproximadamente 600 mil pessoas.

Nunca houve uma confrontação direta entre ambas as nações, apesar de que entre os anos de 1947 e 1959 o governo brasileiro presidido por Dutra, cortou relação com a URSS devido ao aumento do Partido Comunista no Brasil, sem embargo as relações foram retomadas na gestão de Juscelino Kubitschek e evoluíram graças a uma política externa brasileira baseada em um sistema de balanceio, sendo assinado em 1997 o Tratado de Cooperação Brasil-Rússia.

Durante a gestão de Luiz Ignácio Lula da Silva, houve um aprofundamento das relações, com a visita de Vladmir Putin ao Brasil em 2004 o que levaria a consolidação na próxima década dos BRICS (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul) com o consequente incremento dos acordos e do fluxo comercial entre os dois países.

Si por um lado o Brasil buscava apoio para ingressar no Conselho de Segurança das Nações Unidas e diversificar seus investidores, a Rússia encontrava no Brasil um parceiro estratégico no cone sul e líder regional.

Com a mudança da gestão desenvolvimentista de Lula para o alinhamento geopolítico baseado na dependência de Bolsonaro, as relações diplomáticas do Brasil com países não ocidentais, sofreram um certo abalo, sendo este muito mais discursivo que de fato político. Exemplo disso são os constantes ataques do próprio Presidente Jair Messias Bolsonaro e seus filhos à nações como a China e países do Oriente Médio, porém o saldo comercial e o fluxo de investimentos se manteve em patamares aceitáveis, e no caso da Rússia, registrou um aumento de 87%.

Para entender a incoerência entre o discurso político do Brasil e suas ações geopolíticas, é necessário entender que a diplomacia da gestão Bolsonaro tem sido caracterizada pelo seu cunho pessoal e ideológico, sendo que o presidente do Brasil nutre certa admiração pela gestão de Moscou e pela figura de Putin, assim como de seu mentor o filósofo russo Aleksandr Guélievich Duguin e sua defesa do conservadorismo, a diferença do líder Chines ao qual lhe atribui todos os malefícios do comunismo que “ameaça” ao sistema internacional (ainda sendo a China o maior parceiro comercial do Brasil).

Por esse motivo, no dia 16 de fevereiro, em plena Crise da Ucrânia, Bolsonaro se reuniu com o primeiro-ministro russo e com Vladmir Putin, acompanhado de seus filhos e generais que ocupam cargos ministeriais no Brasil, gerando convulsão na sua base aliada. Porém cabe lembrar a boa relação da família Bolsonaro com Steve Bannon, figura chave no auge do conservadorismo global e nas disputas eleitorais, que já defendeu abertamente a Rússia e seus elogios ao líder russo.

Essa controvertida reunião, colocou o Brasil em uma situação delicada, já que por um lado a gestão Bolsonaro demostrou sempre estar insatisfeita com a eleição de Joe Biden e desde sua vitória se distanciou de Washington e por outro o país está na periferia das potências ocidentais, tentando fazer valer um acordo entre o Mercosul com a União Europeia e recuperar seu papel de líder regional.

Segundo chanceler do Brasil, Carlos França, o Brasil optou pelo “equilíbrio” e não pela neutralidade, aceitando aos refugiados ucranianos, mas sem condenar a invasão russa no contexto global.

Muitos são os elementos que compõe essa decisão do Brasil, seja pelo simples oportunismo econômico (ao final o país é capaz de suprir a União Europeia devido à falta de produtos) ou pela manutenção dos fluxos de investimentos e balança comercial e até mesmo por angariar apoio para sua adesão como membro permanente do Conselho de Segurança… ou algo muito mais egoísta como a reeleição de Bolsonaro através da construção de uma imagem de líder conciliador, papel sempre antes atribuído ao que será seu maior rival nas eleições deste ano Luiz Ignacio Lula da Silva.

De fato, não é a primeira vez que o presidente do Brasil usurpa a imagem construída durante a gestão do Partido dos Trabalhadores, Bolsonaro já se apropriou da autoria de obras tais como a transposição do Rio São Francisco que estava 96% completada pela gestão anterior.

A construção de uma imagem carismática em países latinos como o Brasil é fundamental e tem forte apelo eleitoral, tanto é que houve uma série de fakenews que declaravam que Bolsonaro havia sido nomeado ao prêmio Nobel da paz pelo seu papel no conflito, somente com a invasão Russa seus aliados tiveram que recuar.

Esse movimento de bandwangoning foi típico do período de ditadura militar no Brasil, ditadura está defendida por Bolsonaro e aliados… Porém pode resultar na morte geopolítica da nação, caso não saiba se posicionar a tempo no lado vencedor.

Fuentes: