Este artigo fai parte do Nós No Mundo 2019-2020 "A paradiplomacia galega na nova normalidade"

A economia galega frente ao exterior

“Este informe foi elaborado com dados prévios à crise do cornavírus cujo impacto na economia e o comportamento social é ainda imprevisível”
Liñas de investigación Paradiplomacy
Apartados xeográficos Foreign action of Galicia
Idiomas Galego

“Este informe foi elaborado com dados prévios à crise do cornavírus cujo impacto na economia e o comportamento social é ainda imprevisível”

1. A demanda de produtos galegos: mercado imediato, próximo, afastado

A economia galega mantém, como todas, importantes vínculos externos, quer seja de índole comercial (exportações e importações), financeiro (compras e vendas de activos) ou transferencial (entradas e saídas de rendas externas, subsídios e outros pagamentos). O espaço económico exterior ao que estamos vinculados começa com as trocas de toda índole com o resto do território espanhol, alarga-se aos intercâmbios com o espaço comunitário e prolonga-se finalmente a outros espaços de especial interesse: países produtores de produtos energéticos, países latino-americanos, potências emergentes, com a China em primeiro lugar.

Resulta pertinente examinar antes de nada as relações com o resto de Espanha. Qual é o volume de mercadorias produzidas em Galiza que têm como destino a própria Galiza, o resto de Espanha e o resto do mundo? Para responder adequadamente a esta questão haveria que recorrer às Tábuas Input Output elaboradas com certa periodicidade pelas CC. AA. posto que, a perspectiva territorial que envolve a pergunta não faz parte da Contabilidade Nacional. É preciso, em consequência, recorrer a investigações específicas sobre o particular; nomeadamente aos informes periódicos elaborados por C-Interreg, o último dos quais é referido ao ano 2017.

A estimação da produção própria distribuída entre o mercado doméstico, o mercado espanhol e o mercado do resto do mundo por cada CC. AA. esclarece esta questão da distribuição espacial normalmente descuidada na informação habitual procedente das Contabilidades Nacional e Regionais.

As cifras referidas a Galiza, oferecidas por C-Interreg para o ano 2017, e a sua relação com as correspondentes ao conjunto de Espanha são as seguintes:

Ano 2017, milhões eurosMercado doméstico (1)Mercado espanhol (2)Exportações resto mundo (3)Produção efectiva (1+2+3)
Galiza12.62813.42621.67647.730
Espanha156.510214.919275.013646.442

É preciso sublinhar que a informação facilitada por C-Interreg é de índole puramente comercial e que a produção efectiva aludida pouco tem a ver com o produto interior bruto estimado em termos de Contabilidade Nacional. Reparemos no facto de que a contribuição de Galiza à economia espanhola é de 7,4% em termos de produção efectiva mas se mantém em torno ao 5% em termos de PIB.

Seja como for, o que interessa destacar é que a facturação das empresas galegas no próprio mercado galego é de (26,5%), e alcança o 28,1% no resto do mercado espanhol e o 45,4% a produção comercializada no resto do mundo. Para o conjunto das CC. AA. os proporções são semelhantes: 24,2% mercado de origem, 33,2% resto de Espanha, 42,5% resto do mundo. Contudo, este padrão de distribuição mostra diferenças pronunciadas. Assim, a comercialização no próprio território alcança o seu máximo em Baleares (40,6%) e o seu mínimo em Múrcia (17,0%), a porção destinada ao resto de Espanha tem o seu máximo em Castela-A Mancha (58,5%) e o seu mínimo em Baleares (13,4%) e a destinada aos mercados externos tem o seu máximo em Madrid (53,8%), com Catalunha, o País Basco, Navarra e a Comunidade Valenciana em posições muito destacadas e o mínimo em Castela-A Mancha (23,9%). A conclusão mínima a tirar da análise comercial mencionada é que quando falarmos de exportações é bom não esquecer que os fluxos externos referidos esquecem os fluxos internos, claramente equiparáveis.

2. A balança comercial: importações e exportações, origens e destinos

Entrando já na actividade comercial externa da economia galega, exportações e importações fora das fronteiras espanholas, interessa comparar a magnitude relativa dos fluxos comerciais galegos em relação com os do resto das CC. AA.

O peso relativo de exportações e importações sobre PIB proporciona um índice objectivo para avaliar a potência comercial e grau de abertura da economia frente ao exterior e, em definitivo, da adaptabilidade e aptidão para competir em mercados abertos da economia em questão. Examinemos o comportamento das CC. AA. a partir da base de dados Datosmacro do diário Expansión. Os dados oferecidos para os rácios de exportações sobre PIB relativos a 2017, vão de um máximo em Navarra de 41,29%, seguida de Galiza com 35,78%, até um mínimo de 5,73% em Canárias. Os rácios de importações sobre PIB vêem encabeçados por Catalunha com 38,08%, seguida de Múrcia com 31,59%, cerrando as Ilhas Baleares com 5,65%. Os rácios de saldos comerciais sobre PIB são calculados por simples diferença.

Quanto a Galiza, duas conclusões merecem ser destacadas, a primeira é a notável vocação exportadora da nossa economia e a segunda o vigoroso saldo comercial exibido não obstante o alto nível de importações sobre PIB. É pertinente apontar que os rácios galegos se sustentam na fortaleza de contados grupos industriais como o Complexo de Alcoa em São Cibrão, a Refinaria de Repsol na Corunha, o Grupo Inditex com sede em Arteijo e o complexo automobilístico configurado em torno ao Grupo PSA na área de Vigo. Todos eles com forte capacidade exportadora e de arraste de importações de matérias-primas e semielaborados.

Cumpre assinalar que as vantagens de contar com uma balança comercial avultada e positiva por parte da Galiza vêem-se parcialmente neutralizadas tanto pela localização de parte da cadeia de valor no estrangeiro como pela localização das sedes sociais fora de Galiza limitando ambas circunstâncias a plena apropriação do valor final e o impacto dos efeitos positivos indirectos.

CCAA, 2017% [export/PIB]% [import/PIB]% [saldo/PIB]
Navarra41,2922,6718,62
Galiza35,7828,297,49
País Basco34,2226,747,48
Múrcia34,1731,592,58
Aragão33,6930,483,21
Catalunha31,9938,08-6,09
Castela e Leão27,7823,863,92
Comunidade Valenciana27,2624,153,11
A Rioja22,3016,435,87
Andaluzia19,8818,781,10
Astúrias18,4418,310,13
Castela A Mancha17,6821,13-3,45
Cantábria17,5414,762,78
Madrid13,7827,50-13,72
Extremadura9,846,183,66
Ilhas Baleares5,905,650,25
Canárias5,739,72-3,99

3. A rede comercial galega: Principais clientes e fornecedores

Interessa explorar a rede comercial tecida pela economia galega, tanto a dos países receptores como a dos fornecedores de produtos para o consumo empresarial ou final. Utilizaremos para tal fim a base de dados Datacomex da Secretaria de Estado de Comércio. Analisamos as relações comerciais de Galiza durante o último quinquénio resenhado, 2014-2018.

O mapa de relações Datacomex durante o quinquénio em apreço reporta importações por valor de 81.431,95 milhões de euros procedentes de 215 países e exportações por valor de 100.709,02 milhões remetidos a 218 países. É salientável tanto a notável uniformidade das cifras anuais de transacções como a sua distribuição por países, onde é possível delimitar um contado grupo de países claramente privilegiados nas relações comerciais com Galiza. Resumimos os resultados deste mapeado selectivo nos seguintes quadros.

Importações no quinquénio 2014-2018: 81.431,95 milhões euros. Distribuição por países:

Países exportadores % % Acumulado
França26,0426,04
Portugal11,6837,72
Itália4,4242,14
China4,3046,44
Alemanha3,9250,35
México3,6654,01
Turquia2,7356,74
Líbia2,4959,24
Reino Unido2,4761,71
Indonésia2,2163,91
Marrocos2,2066,11
E.U.A.1,9968,10
Argentina1,7669,86
Países Baixos1,6371,49
Argélia1,4372,92
Equador1,2574,17
Rússia1,2475,41
Eslováquia1,2176,62
Bélgica1,1677,78
Namíbia1,0378,80
Resto países21,20100

Exportações no quinquénio 2014-2018: 100.709,02 milhões euros. Distribuição por países:

Países importadores % % Acumulado
França 21,90 21,90
Portugal 13,20 35,09
Itália 8,75 43,85
Reino Unido 6,40 50,25
Alemanha 5,73 55,98
Países Baixos 4,20 60,18
Bélgica 3,12 63,30
Marrocos 3,11 66,41
E.U.A. 2,86 69,27
Polónia 2,73 71,99
Turquia 2,34 74,34
México 1,54 75,88
Grécia 1,52 77,40
Argentina 1,21 78,61
Roménia 1,01 79,62
Resto países 20,38 100


O liderado de França e Portugal, tanto em importações como em exportações, é um traço característico das relações comerciais galegas com o exterior, superando em ambos os casos o 50% das transacções totais. No caso das importações é destacável a presença de países fornecedores de insumos energéticos como México, Líbia, Indonésia ou Argélia. Argentina e Namíbia são, como sabemos, importantes bases operativas para a indústria pesqueira galega.

Aos efeitos de brevidade renunciamos á análise dos produtos envolvidos no tráfico comercial mesmo porque a sua atribuição aos diversos países envolvidos não é sempre fácil de estabelecer.

4. Os fluxos de capital: investimentos estrangeiros directos, entradas e saídas

O investimento externo directo, IED, tanto de entrada como de saída, é uma variável económica crucial na explicação das perspectivas de mudança da estrutura económica produtiva da sua adaptação à economia global. O IED resume correntes financeiras que visam abrir ou consolidar posições julgadas estratégicas no contexto internacional. Os dados relevantes são tirados desta vez da base DataInvex da Secretaria de Estado de Comércio. Excluímos da análise os dados referidos a operações de Entidades de Tença de Valores Estrangeiros (ETVE) pelo seu carácter meramente financeiro e conjuntural.

Uma simples olhada aos quadros resumo das transacções de capital referidas a Galiza no quinquénio 2014-2018 mostra uma marcada diferença entre o investimento recebido e o emitido, que é sete vezes superior. O empresariado galego manifesta uma marcada vocação internacional, em aberto contraste com a modéstia do atractivo da nossa economia como destino de iniciativas empresariais externas.

Outro ponto a destacar é a marcada diferença do mapa de países investidores em Galiza e os países receptores. Portugal, sobretudo, seguido da França, seguem sendo os países mais propensos ao empreendimento na Galiza; com a China, por sinal, em terceira posição. A geografia dos países receptores é muito mais exótica com os E.U.A. e o Reino Unido em primeira posição.

Investimento bruto recebido no quinquénio 2014-2018. Entradas no quinquénio: 899,48 milhões de euros

Países investidores%% Acumulado
Portugal56,3656,36
França11,0967,45
China6,8074,25
Ilhas Virgens Britânicas5,1179,36
Reino Unido3,4082,76
Países Baixos2,4885,23
México2,4187,64
Luxemburgo1,7789,41
Suíça1,7691,17
Itália1,5192,68
Singapura1,3494,02
Venezuela1,3195,33
Brasil1,3096,63
Resto países (77):3,37100

Investimento bruto emitido no quinquénio 2014-2018. Saídas no quinquénio: 6.358,03 milhões de euros

Países receptores%% Acumulado
E.U.A.35,1435,14
Reino Unido27,4062,54
Áustria8,6471,18
Brasil4,7475,92
Coreia do Sul3,3279,24
Canadá2,8782,11
Alemanha1,9784,09
França1,9386,02
Marrocos1,5887,60
Portugal1,4289,02
Nicarágua1,2590,27
Equador1,0791,34
Turquia1,0592,39
Resto países (77):7,61100

No tocante aos fluxos de investimento, outro traço a destacar é a falta de uniformidade temporal dos fluxos recebidos e emitidos como é de esperar ao tratar-se de decisões empresariais conjunturais, em aberto contraste com a estabilidade temporal dos fluxos comerciais. Um exemplo significativo: as entradas de capital forâneo destinadas a Galiza no ano 2017 concentraram 63,11% do total do quinquénio da mesma maneira que o ano 2018 contabilizou 30,4% das saídas de operações de investimento com um exíguo 7,2% em 2014.

Finalmente, é pertinente assinalar a posição marginal da Galiza em Espanha nas trocas de capital e o desmesurado papel de Madrid como capital do capital. Um par de dados apenas para confirmá-lo. Madrid concentrou 64,48% do capital recebido no quinquénio (116.496,34 milhões), seguida de Catalunha com 13,31%; com Galiza numa módica quota de 0,5% (899,48 milhões). Quanto o investimento externo, Madrid concentrava 70,96% das saídas (151.210,65 milhões), seguida de Catalunha com 7,05% e Galiza num honroso quinto lugar (2,98%, 6.358,03 milhões) flanqueada pelo País Basco e a Comunidade Valenciana.

5. O impacto económico da COVID-19: recessão e incerteza

A pavorosa pandemia desatada pelo que sabemos na cidade chinesa de Wuhan em Dezembro de 2019, e que alcançava Itália em 31 de Janeiro de 2020 e a Espanha em 1 de Fevereiro deste ano, vai caminho de transtornar gravemente a ordem económica e política mundial. De momento, parece manifesta a revalorização do liderado da China em comparação com o dos E.U.A. graças à contundência e eficácia exibida em atalhar a epidemia naquele imenso país. No 24 de Março, o governo hindu decretava o confinamento da totalidade da povoação durante três semanas: 1.300 milhões de pessoas. É a última prova da alarme global desatada.

O mapa-múndi da pandemia diariamente actualizado no portal da OMS encerra o mês de Março com 638.146 casos confirmados e 30.039 falecidos em 203 países, num processo de magnitude e trajectória ainda imprevisível. A epidemia, que se concentra de momento no hemisfério norte, estende-se com rapidez pelo hemisfério sul com consequências previsivelmente nefastas tanto em vidas humanas como em empobrecimento económico.

Sobre a magnitude e impacto económico previsível da pandemia dispomos já de alguns informes preliminares[1] ilustrativos do potencial destrutivo do vírus sobre o tecido produtivo e impacto económico no meio prazo. Parece evidente em todo o caso a vantagem comparativa dos países com população mais jovem, que inclui aos mais pobres incluída Sul América, e também dos menos endividados que são muito contados no mundo. E revalorização do sector público da economia, e em especial de um sistema sanitário sólido e flexível, são lições da emergência global que experimentamos tanto mais quanto que os espertos avisam do risco crescente de pandemias globais, intensificado aliás por efeito do aquecimento planetário e o aumento das catástrofes associadas.

Não obstante as fragilidades consabidas da economia espanhola — peso considerável da povoação idosa, escasso tamanho e fraqueza financeira da pequena empresa, forte dependência dos ingressos procedentes do turismo, excessivo endividamento externo — Espanha conta também com notáveis capacidades. A diferença da crise do 2008, Espanha conta com uma banca mais saneada que haverá de ser activada tão cedo quanto possível. As previsões actuais apontam para um impacto transitório com rápida recuperação e mesmo um crescimento acrescentado em 2021, salvo recaídas. Especula-se com saídas em V, em U sem excluir episódios de recessão global em L.

Uma aproximação hipotética à situação aponta para uma dimensão moderada do impacto e a possibilidade de saída vigorosa da crise caso sejamos capazes de preservar em condições adequadas o tecido produtivo, especialmente o segmento das pequenas e médias empresas. Assim, na hipótese de uma queda do 20% do PIB durante quatro meses, o impacto económico se cifraria em 1/15: 6% a 7%. Mesmo nesta previsão, que será provavelmente ultrapassada pelos factos, o impacto rondaria os 80.000 milhões sobre um PIB de 1.245.000 milhões. O Funcas[2] atreve-se a prognosticar um impacto sobre o PIB de apenas 3% com contragolpe em 2021 para recobrar o crescimento nesse ano ao 2,8%.

Tanto os E.U.A. como a UE decidiram acometer medidas extraordinárias de emergência económica de inusitada potência. Com aprovação quase unânime das Câmaras, os E.U.A. lançaram uma operação de resgate sem precedentes de 2,2 biliões de dólares que triplica os 700.000 milhões mobilizados aquando da crise de 2008 e que destina mesmo 250.000 milhões para pagamentos directos a indivíduos e famílias com renda inferior a 75.000 dólares anuais mais 500 dólares para menores de 17 anos.

Depois de alguma hesitação, o Banco Central Europeu decidia a compra urgente de dívida pública e corporativa por mais de 1 bilião de euros depois de sucessivas ampliações da intervenção. Muito mais torpe se manifestou a Comissão Europeia que acabou revelando a forte discrepância entre os países mais ricos, com Alemanha e Holanda afrente, e os países mediterrâneos, incluída a França e Irlanda, empenhados em mutualizar a emissão de dívida pública para atalhar a crise do COVID-19 e fazer frente à reactivação económica. O problema afinal reside em que os instrumentos de política monetária são insuficientes para financiar os programas de emergência sanitária e reactivação de magnitude incalculável e os instrumentos de política fiscal limitam-se no presente ao âmbito nacional.

O Governo espanhol mobilizou um volume de recursos públicos e privados estimados em 200.000 milhões à parte das normas emergência adoptadas como moratórias hipotecarias, expedientes de regulação temporal de emprego entre outras enquanto segue a pressionar as instituições comunitárias a desenharem um programa de acção comum congruente com a magnitude da crise.

O como afectará a crise à economia galega é impossível de predizer embora saibamos que vai vir estritamente condicionada pela evolução da economia espanhola e também da portuguesa e da francesa, sócios fieis e imprescindíveis dos nossos fluxos externos, tanto comercias como de capital, dos quais depende a rapidez da recuperação económica. A solidez das grandes corporações galegas como Inditex e o grupo PSA e mesmo a solidez e compromisso de Abanca auguram uma razoável capacidade de resposta.