Imagem do Festival da Lusofonia de Macau: Fonte: Oficina de Asuntos Culturais do Governo da RAE de Macao

Macau e a lusofonia (Especial, segunda parte)

Em dezembro de 2024 será comemorado o 25º aniversário da devolução da ilha de Macau à China por Portugal. No marco desse aniversário, Carolina Aldea Arias, achega um especial para nos aproximar a um dos pontos estratégicos da Grande Bahia...

A lusofonia é, pela definição do Dicionário das Ciências de Lisboa: a qualidade de ser português, falar português ou ser próprio da cultura ou língua portuguesa. O processo de difusão da língua portuguesa no mundo é resultado da colonização e contato com outras culturas. De esta forma, criou-se uma comunidade formada por países e povos que têm o português como língua materna ou oficial. Esta comunidade recebe o nome de lusofonia ou países lusófonos1.

A presença portuguesa em Macau tem continuado do século XVI, chegando a ter parte importante do controle político da região até 1980. Devido à existência de uma comunidade portuguesa e de uma união cultural, a Região Especial faz parte da lusofonia. Embora não haja estudos exatos sobre o número de portugueses na região hoje em dia, são um grupo importante na economia do país2 com trabalhos maioritariamente no sector serviços.

Derivado do contato com os portugueses, o português está presente como segunda língua oficial. É língua franca em Universidades e cursos de estudo do português e é estudado como idioma estrangeiro em centros de ensino médio e superior. Está presente no sector público, administração e tribunais, asi como em meios de comunicação3. Porém, a qualidade e exigência sobre o ensino do português tem sido desigual durante os anos. Hoje em dia o uso do português como primeira língua está a perder-se pela crescente povoação de outras nacionalidades em Macau. Em 2011 só um 2,4% da povoação falava o idioma, fator que alentou um aumento do controle do ensino da língua. O governo tem como intenção a criação de talentos bilingues com conhecimento de chinês, inglês e português, não só da língua lusa. Isto desemboca em uma diversificação dos esforços da administração e necessidade constante de controle da normativa4.

Por outro lado, não se deve obviar o patuá ou crioulo macaense. Língua surgida do contato cultural entre o português, chinês, malaio e outras línguas do contexto cultural da região. É um crioulo com base lexical portuguesa, usado historicamente pela comunidade Macaense. Atualmente está em desuso e o grupo cultural reivindica-o como recordo identitário5.

A mistura de culturas chinesa e portuguesa exibe-se no festival da lusofonia de Macau. É um evento anual celebrado desde 1998 e que reúne mostras culturais das comunidades lusófonas com presencia na região. Em 2023 foram convidados Angola, Brasil, Cabo Verde, Guine Bissau, Goa, Damão e Diu, Moçambique, Portugal, Santo Tomé e Príncipe, Timor Leste e a comunidade Macaense. O festival reúne atuações, artesanato, gastronomia e jogos6. É um evento cultural criado para aproximar à lusofonia a um público da região e de China continental, para o público experimentar vida em esses lugares e compreender as suas culturas7. Realizam-se também outro tipo de encontros. Entre eles, conferências entre as universidades de Macau e de países de fala portuguesa e atividades recreativas como os primeiros jogos da Lusofonia em 2006.

A região e a sua multiculturalidade oferecem o ambiente perfeito para a relação comercial entre a China e os países lusófonos. Este fator condiciona a criação de espaços comuns que procuram a negociação multi ou bilateral. Em 2003 criaram O Foro de Cooperação Económica e Comercial entre China e países de fala portuguesa, incluindo como membros a países lusófonos como Angola, Brasil, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Moçambique, Portugal, Timor Leste e a República Popular China entre outros. Recebe também o nome de Fórum Macau e em ele está presente China como ativo. A posição da região especial de Macau figura dentro de China e não como membro direto 8.

O Fórum Macau tem se convertido em uma via de entrada de inversões chinesas nos países da CPLP com finca-pé em Brasil e Angola e crescentes inversões nos PALOP. A China converteu-se no principal socio comercial de Brasil, a representar um 32,48 das exportações e 23,22% das importações (Brasil em 2021). Quanto a Angola, o gigante asiático significava em 2021 o 60,9% das suas exportações, com o petróleo como principal produto.9 Em outros PALOPs destacam as inversões chinesas e o impulso das infraestruturas, como as doações a Moçambique para a construção do parlamento moçambicano.

Macau significa para China uma oportunidade de negociações e ofertas de mercado dos países lusófonos. A sua história como ex-colônia e por a sua condição de Região Administrativa Especial permite igualdade comercial e legal com países e regiões lusófonas. Este motivo fomenta uma via de entrada ao comercio dos países da CPLP ao gigante asiático. Cria-se um intercâmbio cultural e económico com Macau como centro, com o Foro Macau como dinamizador.


Bibliografia