ARTIGO QUE FAZ PARTE DO ESPECIAL "OGALUS: LUSOFONIA" POLO DÍA MUNDIAL DA LINGUA PORTUGUESA, 5 DE MAIO DO 2023
cplp e galiza

O Observatorio Galego da Lusofonia (2008-2023): Acento na língua para uma historia do S.XXI

O IGADI nasceu no 1991 como um think tank de relações internacionais comprometido com o desenvolvimento da Autonomia galega e a sua ação exterior. A história do IGADI caracterizou-se por combinar a lealdade às instituições com os compromissos da nossa missão associativa. A rota da Autonomia da Galiza ao mundo internacional de língua oficial portuguesa tem muitos caminhos desde a aprovação do Estatuto galego no 1981, mas teve no IGADI um dos seus promotores com resultados concretos.
Apartados xeográficos Acción exterior de Galicia
Idiomas Portugués

A criação do Fundo Galego de Cooperação e Solidariedade1 (1997) ou do Livro Branco da Ação Exterior da Galiza2 (2004), são expressões concretas dos frutos dos nossos objetivos estatutários, que se podem traduzir no slogan, IGADI, ação exterior com acento na língua. Nessa inércia da história do IGADI como associação-instituição construindo laços com a lusofonia, no 2008 Ánxelo González, daquelas Vicediretor, impulsionou com o apoio de Xulio Rios, fundador do IGADI, a criação do OGALUS (Observatório Galego da Lusofonia).

Na matrioska de projetos do IGADI e no seu mapa histórico, o OGALUS ativou uma atenção sistemática aos países e regiões de língua oficial portuguesa desde Galiza. O objetivo é promover um maior com conhecimento da realidade global e particular da lusofonia, assim como um maior aproveitamento da vantagem comparativa que supõe a facilidade com que as pessoas galegas podem perceber-se e fazer-se perceber nos territórios lusófonos.

É preciso indicar que desde o 2014 o trabalho do IGADI-OGALUS, à hora de pensar na sua integralidade a ação exterior da Galiza, organízase com o seguimento e impulso direto à Lei de aproveitamento do português e vínculos com a Lusofonia, que o Diário Oficial da Galiza publicou o 8 de Abril do 2014.

Desde a normalização do OGALUS no trabalho panorâmico do IGADI no 2008, publicaram-se centenas de artigos, editaram-se materiais informativos, organizaram-se palestras, publicações, Congressos ou até a começos deste 2023, produziu-se uma Gala da Lusofonia: A República dos Sonhos3, em colaboração com a Deputação de Pontevedra, na Eurocidade Tomiño-Cerveira, ideado e produzido pelos jornalistas Tino Santiago e Alberto Mancebo, conduzida pela apresentadora Esther Estévez e com a música da Uxía, junto a um conjunto de convidadas do mais interessante4

Uma História para o S.XXI: Da Lei Paz Andrade à entrada de Espanha na CPLP

Se no 2009 nascia o OGALUS, três anos depois, no 2012, um grupo de ativistas reintegracionistas anunciava uma recolhida de assinaturas para o impulsiono da Iniciativa cidadã Paz Andrade, na coincidência com a homenagem do Dia das Letras Galegas do 2012 ao escritor e empresário galego Valentín Paz Andrade (1898-1997). A iniciativa, trazia como novidade o sublinhado sobre o potencial económico internacional da língua galega. Contra todo o prognóstico e numa sucessão de acontecimentos virtuosa, a Iniciativa converteu-se em Lei no 2014 com o total apoio do Parlamento galego.

No marco do OGALUS, com a colaboração de investigadoras em práticas, começamos a retratar a história da Iniciativa desde o 2013, a sua transformação em Lei e o seu desenvolvimento prático ao longo desta década. A esta investigação, com observação participante, chamamos-lhe Uma História para o S.XXI. Neste tempo realizamos mais de 50 entrevistas biográficas a muitas das suas protagonistas, num processo acumulado que nos debuxa um mapa multicolor arredor da arqueologia e do processo da construção da Lei Paz Andrade. Dos seus sucessos e dos seus insucessos, assim como dos diferentes imaginários do processo, diferencia de sensação de velocidade ou significados em disputa.

Em qualquer caso e com toda a complexidade do tema que desborda este texto, a Lei Paz Andrade abriu uma nova etapa na história da Autonomia e a sua dimensão global, motivando diferentes iniciativas de releve, entre outras, os protocolos com o Instituto Camões para a facilitar a incorporação do português no ensino da Galiza, o projecto Arritmar de música e poesia ou o Prêmio Nortear de literatura juvenil galego-portugués, o convénio de colaboração da Real Academia da Galiza com a Academia das Letras do Brasil no 2019 e o Dia das Letras a Carvalho Calero 2020, as coproduções entre a CRTVG e a Rádio Televisão Portuguesa (assim como o aparecimento do Apúntamento Lusófono na própria CRTVG), a incorporação do Conselho da Cultura da Galiza, a Academia Galega da Língua Portuguesa, ou os Docentes de português na Galiza, como observadores consultivos da CPLP, ou a inclussao de um Observatório Galego da Lusofonia Paz Andrade na Lei galega de acção exterior aprovada no 20215, que agora mesmo encontrasse em processo de definição.

Nessa torrente de pequenas-grandes decisões-consequências da Lei, o anúncio da entrada de Espanha como observador associado da CPLP no Verão do 2021 é por enquanto o último grande ponto desta história. Uma caminhada que no marco da história autonómica iniciara no ano 1986 com a participação da Comissão Galega do Acordo Ortográfico nas reuniões para o Acordo de Unificação da Língua Portuguesa, em Brasília (1986) e Lisboa (1990), antecedentes fundamentais para a criação da CPLP em 1996. Aquela participação galega no Acordo Ortográfico, impulsionada também pelo Valentín Paz Andrade, é preciso significar, realizou-se na altura com a aprovação do Ministério de Assuntos Exteriores da Espanha e conhecimento das autoridades galegas, assim como com oa colaboração proactiva do governo brasileiro (no primeiro caso) e do governo português no segundo, como pode comprovar na documentação disponível.

Lamentavelmente no 2023, dois anos depois da entrada de Espanha na CPLP, os avanços podem-se observar só de maneira indireta e atendendo ao subtexto da agenda internacional do Estado, mas longe do entusiasmo, as impulsoras da Iniciativa expressaram em reiteradas ocasião o seu descontentamento pela falta de mais um impulso decidido por parte do conjunto de instituições, especificamente no que diz respeito a lentidão da incorporação da aprendizagem do português no ensino.

O OGALUS e a lusofonia no mundo do futuro

O trabalho do OGALUS possibilitou e possibilita na Galiza e no espaço global da língua portuguesa, um lugar de conhecimento plural e intercontinental de encontro, aberto, onde a discussão cria valor acrescentado ativando o futuro, numa lusofonia do S.XXI construtiva6 do económico ao sociocultural.

Para a Galiza dos anos 20, além das evidentes conexões, empatias e sinergias, tomar consciência e atuar, cuidar estrategicamente as relações desde Galiza com a língua portuguesa e as suas sociedades, assim como a relação com a CPLP, tem potencial para ser um novo pilar do nosso modelo de desenvolvimento alargando e focando os mapas. Falamos do âmbito económico e comercial, mas também de âmbitos estratégicos onde temos complementaridades por explorar com o espaço da lusofonia: o pesqueiro, o académico, a indústria cultural ou turístico, por significar alguns. Cooperando multiplicamos as nossas possibilidades num mundo interdependente e cheio de incertezas. Assim as coisas para o IGADI-OGALUS, participar e celebrar ativamente esta história e o Dia internacional da língua portuguesa do ano 2023 enchem-nos de alegria e entusiasmo.

Por último, em primeiro lugar quero agradecer a Wesley ST Guerra, brasilego com o que tenho a honra de coordenar o OGALUS, agradecido por todo o conhecimento e alegria que acompanha, que representa as melhores caras da Galiza do presente e do futuro, por impulsionar esta obra coral e intercontinental. Ao CERES e a JUPLP, que dignificam os estudos internacionais e as possibilidades de sucesso para o futuro da humanidade e da lusofonia do possível, achegando aos palcos em chave tão realista como construtiva, em linha com a Agenda 2030 e o melhor do sistema de Nações Unidas. Finalmente agradecer a todas as pessoas investigadoras das três entidades, que graças ao seu conhecimento e colaboração desinteressada seguimos a semear ideias e agitar coraçoes, assumindo os reptos do presente à procura do bem-estar das nossas sociedades.

PODE CONSULTAR A PUBLICAÇÃO “ESPECIAL LUSÓFONÍA: 15 ANOS DE OGALUS” NESTA LIGAZÓN


Bibliografía básica relacionada

  • 1 O FGCS, rede de Câmaras municipais e Deputações galegas para a cooperação ao desenvolvimento que criou o IGADI ao longo dos anos 90, institucionalizou o apoio estratégico à lusofonia desde a sua fundação (1997) como área prioritaria da cooperação galega. Na sua história destaca a sistematzaçao deste processo num modelo especial com Cabo Verde, e já desde o 2017 com o impulso ao Foro da cooperação municipalista da Lusofonia no marco da Agenda 2030.
  • 2 Com a aprovação no Parlamento Galego do Livro Branco da Acção Exterior da Galiza, a lusofonia, coma o espaço xeopolítico de língua oficial portuguesa, define-se como uma área geográfica prioritária do conjunto da acção exterior da Xunta de Galicia.
  • 3 Baseada na faz de Nélida Pinhão a atividade constituía a última, de num projeto coa Deputación de Pontevedra para promover uma acçao exterior na Deputación em linha com o enquadramento jurídico e político dá ação exterior de Galiza
  • 4 Podes ver o conjunto histórico de materiais do OGALUS na web, www.igadi.gal/investigacion/observatório-galego-da-lusofonia Também podes aceder a web em português do IGADI em www.igadi.gal/pt-pt/
  • 5 É preciso destacar que a Lei galega da acção exterior e a cooperação ao desenvolvemento da Galiza conta com um título III intitulado “A Eurorexión e a lusofonia na Galiza”.
  • 6 Tanto dentro da Galiza como fora dela, a ideia da Galeguía ajuda a construir, não coma rival conceptual, se não coma complemento explicativo do significado da lusofonia e a nossa pertença na mesma (desde as origens da língua e a lógica não colonial que queremos para as relações internacionais deste S.XXI). A ideia da Galeguía popularizouse desde fora da Galiza, por personalidades coma o escritor brasileiro Luiz Ruffato ou a cantora angolana Aline Frazao, por citar alguns.