Para tal, segundo a página web da Secretaría Xeral de Política Lingüística da Xunta de Galicia atualmente “o galego é obxecto de estudo en trinta e nove universidades. Vinte e oito delas contan con lectores – licenciados/as en Filoloxía Galega-, asentados en departamentos coñecidos como Centro de Estudos Galegos” (https://www.lingua.gal/o-galego/proxectalo/rede-de- centros-de-estudos-galegos).
Esta rede de CEG implica, cabe destacar, um importante esforço económico pois, em regra, a Xunta de Galicia atribui um orçamento, mediante a assinatura de um protocolo com cada universidade, que tem por objetivo retribuir o/a leitor/a e custear as atividades culturais. Não sendo, em geral, quantias económicas desorbitadas – apesar das dificuldades económicas que muitos/as leitores/as enfrentam – significam, como dizíamos, um esforço económico notório no sentido de, cabe pensar, internacionalizar a cultura galega.
Em Portugal o primeiro CEG foi criado em 1994 na Universidade Nova de Lisboa. Um ano depois, nasceu a Cátedra de Estudos Galegos da Universidade de Lisboa, hoje sem vínculo institucional com a Xunta de Galicia. De 1997 data a criação do CEG da Universidade do Minho e, alguns anos mais tarde, em 2002, o da Universidade do Algarve. Os estudos galegos em Portugal não se esgotam nesta rede, naturalmente; acreditamos, no entanto, que os CEG de Portugal são um dos espaços privilegiados para a dinamização do que poderíamos chamar a internacionalização da cultura galega no espaço português.
A reflexão acerca do papel dos CEG em Portugal não pode descurar, entendemos que o relacionamento, de variada espécie, entre Galiza e Portugal nunca, em séculos, foi tão intenso e diversificado como na atualidade
Lembre-se ao respeito a relativa institucionalização da relação Galiza-Portugal derivada do surgimento de, a partir da década de 90 do século passado, diversas organizações galego-portuguesas: a Comunidade de Trabalho Galiza/Norte de Portugal (1991), a partir de 2008 Agrupamento Europeu de Cooperação Territorial Galiza – Norte de Portugal; o Eixo Atlântico do Noroeste Peninsular (1992), constituído por mais de 40 cidades e vilas; com dimensão estritamente local, as Eurocidades (até a data: Valença- Tui, Chaves-Verim e Cerveira-Tominho, a partir de 2012, 2014 e 2018, respetivamente); ou, no plano académico, a constituição do Centro de Estudos Eurorregionais Galiza – Norte de Portugal (2004), integrado por 7 universidades galegas e portuguesas. O até aqui sinteticamente referido, deve ser complementado com outras iniciativas de foco cultural que vão ganhando visibilidade nomeadamente a partir de, grosso modo, 2014 (significativamente data da promulgação no Parlamento galego da Lei Valentim Paz Andrade): o Prémio Literário Nortear (primeira edição em 2015), promovido pela Direção Regional de Cultura do Norte, a Xunta de Galicia e mais o Agrupamento Europeu de Cooperação Territorial Galiza – Norte de Portugal; o bracarense Festival Cultural Convergências Portugal Galiza (também desde 2015); Arri[t]mar. Prémios Música e Poesia Galego-Portuguesa (a partir de 2016), iniciativa da Escola Oficial de Idiomas de Santiago de Compostela; ou, no âmbito académico, o Programa IACOBUS, cujo objetivo passa por incrementar a cooperação entre as universidades galegas e as do Norte de Portugal replicando em parte o programa Erasmus da Comissão Europeia.
Perante este quadro parece necessário refletir acerca da possibilidade de os CEG portugueses contribuírem para – em termos de diplomacia cultural digamos – o diálogo entre a Galiza e Portugal ou até entre a Galiza e a Lusofonia. Para tal, apontamos alguns desafios, seria preciso repensar a própria rede de CEG. Resulta surpreendente o vazio
desta rede na Universidade do Porto, localizada numa das cidades de referência do Norte português, ou na Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro; também na pujante Universidade de Aveiro, entre outras. A eventual reformulação da rede e outras iniciativas deve, em nossa opinião, problematizar a lógica central da relação atual: a consequência sobretudo das políticas da União Europeia (de des-fronterização), os termos do relacionamento estão a virar para a dupla Galiza-Norte de Portugal (ou vice- versa), frente ao antes relativamente consolidado Galiza-Portugal (ou Portugal-Galiza). Cabe, portanto, os atores envolvidos repensarem esta incipiente lógica eurorregional.
Por outro lado, com o sentido de otimizar recursos e promover um trabalho significativo, seria esperável os CEG portugueses contarem com planificações alinhadas com estratégias e objetivos previamente definidos. Nesta direção os três CEG portugueses começamos incipientemente a estabelecer programas de atuação conjuntos, tentando articular o trabalho desenvolvido e poder alcançar mais e melhores objetivos. Entre outras atividades destacamos uma linha de investigação en curso que pretende conhecer as ideias e imagens dos/as alunos/as de estudos galegos em Portugal; igualmente a publicação em Galizae(m)nós. Estudos para compreensão do relacionamento cultural galego-português (2021; acessível em http://hdl.handle.net/1822/76402) em que pretendemos dar voz a pessoas da Academia portuguesa que se têm interessado pelos estudos galegos; também a articulação entre os três CEG que terá como cólofon a celebração do próximo congresso da Asociación Internacional de Estudos Galegos em Portugal (Universidade do Minho, 2024).
Por fim, com uma trajetória de cerca de três décadas os estudos galegos ancorados nos CEG portugueses apresentam-se como um espaço privilegiado para o fortalecimento do diálogo intercultural entre a Galiza e Portugal, entre a Galiza e a Lusofonia. Falta, a vários níveis, identificar horizontes possíveis e desejáveis. Para alguns, entre os que nos incluímos, esses horizontes devem de alguma forma estar articulados com as necessidades várias que, em termos socioculturais, a Galiza enfrenta e para o que o mundo em português poderá ser uma ajuda preciosa.