Daniel González Palau entrevista ao caboverdiando na Galiza, Milton Jorge Monteiro dos Santos
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“Eventos como a pandemia da Covid-19 demonstram quão urgente é a transição para modelos económicos, sociais e ambientais sustentáveis e que respondam às necessidades humanas”

Milton Jorge Monteiro dos Santos, de nacionalidade cabo verdiana, é natural de São Francisco, Cidade da Praia. É licenciado em Geografia e ordenamento do território pela Universidade de Cabo Verde. Atualmente residente em Santiago de Compostela e estudante do Mestrado de Planeamento e Gestão territorial pela Universidade de Santiago de Compostela. No 2023 apresentou o trabalho “Atitude dos residentes face ao desenvolvimento do turismo rural em Ribeira de Principal, Calheta São Miguel e em Padrón, Galiza-Espanha: Uma análise comparativa”.
Apartados xeográficos África

Como você entrou em contato com Padrón? O que o motivou a desenvolver sua tese?

O meu primeiro contacto com Padron foi devido ao meu orientador e professor daqui da Universidade de Santiago de Compostela Xose Santos e tambem a Montese Rois. Isto permitiu-me entrar em contacto com a população local, turistas que passam por ali e também especialistas, como o Presidente de Cluster do turismo. Por outro lado a minha orientadora Vera Alfama permitiu o contacto com a população de Ribeira Principal, Calheta Sao Miguel, com os que pude obter os dados para a elaboração do meu trabalho que e a análise comparativa entre as duas areas.

Que semelhanças e diferenças existem na percepção do turismo em São Miguel de Cabo Verde e Padrón na Galiza?

Sendo Cabo Verde um país com muitas fragilidades e com comunidades rurais muito tradicionais e onde a cultura tem um peso enorme, a atividade turística pode provocar sérias consequências como a perda da autenticidade. Por esses e outros motivos, este tema despertou o interesse de aprofundar estas questões, desvendar as modificações que o Turismo rural tem provocado em Cabo Verde, no geral, e na Ribeira do Principal, em particular. Para além disso, optou-se por fazer uma análise comparativa do turismo rural praticado na Ribeira Principal com o praticado em Padrón, Espanha.

Em ambos os casos, o turismo surgiu no rural como uma alternativa de permanência, no entanto, cabe esclarecer que no caso de Padrón essa atividade é incentivada e no caso de Ribeira Principal esse incentivo é muito pouco ou quase ausente. É notório a diferença dos contextos em que se encontram as duas realidades, no caso Padrón havendo uma valorização do rural na contemporaneidade e no caso de Ribeira Principal apresentando uma desvalorização das atividades e do modo de vida rural fundamentados nas políticas públicas. Embora reconheça-se as diferenças existentes entre Cabo Verde e a Espanha, percebe-se que a experiência espanhola sobre as políticas de desenvolvimento rural podem contribuir para repensar as políticas de desenvolvimento rural em Cabo verde.

Em que contribui o turismo rural para a concretização da Agenda 2030 das Nações Unidas?

A Agenda 2030 deve ancorar-se fortemente no setor turístico porque ele é extremamente frágil, volátil e elástico. Eventos como a pandemia da Covid-19 demonstram quão urgente é a transição para modelos económicos, sociais e ambientais sustentáveis e que respondam às necessidades humanas.

Conhece algum modelo de boas práticas de turismo rural no mundo, e especificamente nos países da língua oficial portuguesa, que pode servir de inspiração?

A Direção-Geral de Agricultura e Desenvolvimento Rural (DGADR) de Portugal é um dos modelos de boas praticas de turismo rural, que tem por missão contribuir para a execução das políticas nos domínios da regulação da atividade das explorações agrícolas, dos recursos genéticos agrícolas, da qualificação dos agentes rurais e diversificação económica das zonas rurais, da gestão sustentável do território e do regadio.

Como podemos reforçar as relações de Cabo Verde com a Galiza?

As relações entre os dois países são excelentes, penso que de todos os pontos de vista, partilham os mesmos princípios e valores, então é uma relação muito fluida entre as duas regioes. A grande comunidade cabo verdiana aqui em Galiza pode ter um papel para reforçar cada vez mais as relações.

Poderia recomendar um filme, uma canção e um livro de Cabo Verde?

Das formas musicais que compõem o panorama cabo-verdiano, o batuque, o funaná, a morna. Chiquinho, um romance de Baltasar Lopes, é o livro cabo-verdiano mais importante publicado até à data.