Comparada com as grandes cidades brasileiras, Corunha (em português) é do tamanho de um distrito, tais como a subprefeitura da Mooca em São Paulo, ou equivalente a pequenas cidades do Brasil tais como Itajaí, Passo Fundo, Rio Claro ou Criciúma. Ainda assim a cidade, possui um aeroporto com diversas conexões internacionais (Europa), estádio de futebol de nível internacional (onde até mesmo craques como o Pelé, Donato e Bebeto já jogaram), um porto com terminal de cargas e de cruzeiros que fazem a rota do Norte da Europa, importantes polos industriais, um crescente setor de serviços, conexão de alta velocidade com Ourense e de lá com o trem bala para Madrid (AVE) e importantes empresas e fortunas, ao final Corunha é o berço de Amâncio Ortega, um dos homens mais ricos do planeta, dono da multinacional Inditex conhecida no Brasil pela marca Zara e que é considerada a maior empresa têxtil da Terra.
Uma pequena cidade portuária fundada pelos celtas e com a presença marcada dos Romanos, pois na mesma se localiza o faro romano em funcionamento mais antigo do mundo, a famosa Torre de Hércules, bilíngue (tanto o Galego como o Castelhano/Espanhol são línguas oficiais), que serviu de moradia para grandes personalidades tais como Pablo Picasso, Emilia Pardo Bazán, Urbano Lugrís, entre outros… e que hoje é capaz de projetar internacionalmente grandes marcas tais como a Zara, Pull&bear, Massimo Dutti, Oysho, Estrella de Galicia, Abanca… Recentemente escolhida para ser o centro de operações de inteligência artificial de toda Espanha, graças ao seu projeto “Cidade das Tics”…
Porém o que faz de Corunha uma futura potência internacional? Pois é sabido, que a cidade é negligenciada pelo governo central de Madrid, que o famoso corredor ferroviário do Atlântico não passa por ela (Ao menos não diretamente), ainda sendo uma das poucas capitais e cidades atlânticas da Espanha, outro exemplo flagrante é o fato de não possuir trens regionais entre suas capitais ainda sendo uma comunidade autônoma com expressiva população dentro do contexto espanhol.
Assim mesmo, o corredor verde que busca unificar a produção energética de ponta na Espanha através da produção de hidrogénio, também não passa por ela, mesmo sendo uma das grandes cidades de Galicia e maior produtora de energia verde do país… Sendo necessário toda uma ação do governo local para sua adesão ao projeto espanhol, que mais retira serviços do que implementa, provocando uma ingente perda de população nas zonas rurais…
E mesmo diante de toda essa adversidade, Corunha não para de se destacar na região, juntamente com Vigo, maior cidade de Galiza.
Talvez seja a coragem do povo Galego, que foram os primeiros a se separar do Império Romano e fundar o reino Suevo, de figuras como a heroína local Maria Pita que lutou contra os corsários ingleses ou de Emília Pardo Bazán uma das primeiras feministas da Espanha, ou dos milhares de galegos que emigraram ao redor de todo o planeta… Existe algo no DNA galego e corunhense!
A coragem e o empreendedorismo estão marcados no povo galego e na história de Corunha, foi lá onde uma pequena loja se transformou no maior império da moda da atualidade, a famosa Zara…
La também a pequena cervejaria de uma região menos típica que as famosas cidades da Baviera ou da Holanda, se projetou internacionalmente com a marca Estrella de Galicia.
Foi por sua garra e sede de conquista, além de sua notável vontade de conhecer mais e mais do mundo e de se inserir no mesmo que Corunha não teve o fatal destino de outras cidades da Galiza, como a vizinha Ferrol.
Em Corunha, um projeto do IGADI – Instituto Galego de Análise e Documentação Internacional, um dos think tanks de relações Internacionais mais antigos da Espanha e que recentemente festejou seu 30º aniversário, mapeou o ambiente internacional da cidade, suas sinergias, ações e vocações, gerando ferramentas e informações para o presente e o futuro da cidade.
Corunha sabe que no mundo globalizado é necessário não somente conhecer como dominar as dinâmicas internacionais, projetar e defender seus interesses, buscar acordos e cooperação além dos canais tradicionais, participar de projetos e atrair investimentos e público de todo o mundo.
O Mapa da cidade global
O mapa global de Corunha disponível no link: https://acorunha.hub.gal/#mapa é um exemplo a seguir por todas as pequenas cidades com vocação internacionalista e que desejam internacionalizar suas atividades, ampliar seus horizontes, sem a limitação dos espaços geográficos ou das proporções demográficas, uma guia que pode e deve ser replicada por demais cidades galegas e de outras regiões pois ajuda a posicionar a urbe diante do contexto internacional e ao mesmo tempo fornece ferramentas importantes e fomenta a geração de novas dinâmicas.
“O que não é visto, não existe” ao menos isso é o que diz a área de marketing, sendo que poucas cidades de fato levam isso a sua realidade política e gestão pública, porém para conseguir o tão desejado crescimento e desenvolvimento econômico em um mundo globalizado, projetos tais como o mapa global são fundamentais, assim como o marketing de cidades, a internacionalização e a consolidação de uma marca local forte, e Corunha com a ajuda do IGADI está realmente se preparando para isso e servindo de exemplo para outras cidades na região e na Espanha.
Com a recente inserção da Espanha na CPLP – Comunidade de Países de Língua Portuguesa e a lei galega Valentim Paz Andrade de aproximação a lusofonia, países como o Brasil, Portugal, Angola, Moçambique, Cabo Verde, Santo Tomé e Principe, Timor do leste, Guiné Bissau, Guiné Equatorial e até mesmo regiões lusófonas tais como Macau (China) ou Goa (Índia) podem usufruir desse know how e dessa experiência replicando o modelo de sucesso em suas cidades.
Galicia e Corunha tem uma mensagem para pequenas e medias cidades de todo o mundo e em especial aos países de língua portuguesa, onde é possível crescer, se desenvolver e se projetar internacionalmente, desde o esforço dos agentes locais e o correto direcionamento para o cenário global, identificando as fortalezas, trabalhando nos pontos fracos, direcionando os projetos e adicionando os interesses, pois se a cidade cresce e se desenvolve todos os atores implicados são beneficiados.
